quinta-feira, 25 de junho de 2015

Coalizão improvável

O que têm em comum o Greenpeace e a Sociedade Rural Brasileira ou a SOS Mata Atlântica e a Associação Brasileira do Agronegócio?

Esta semana foi lançada a Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura que nasceu de uma improvável encontro às vésperas do Natal de 2014 que reuniu em um hotel em São Paulo representantes de entidades empresariais nos setores agrícola e florestal, produtores rurais, ambientalistas, ONGs e lideranças brasileiras do terceiro setor com o propósito de buscar uma agenda comum para promover a sustentabilidade no setor rural com saldo positivo para o mitigação e adaptação as mudanças do clima.

O setor rural é,  por um  lado, o maior contribuinte para as emissões brasileiras de gases de efeito estufa, respondendo por quase dois terços das emissões do país por conta do desmatamento, pecuária e uso excessivo de fertilizantes de fontes fósseis. Por outro lado é o setor com as maiores oportunidades de reduzir emissões e gerar massivas quantidades de captura de CO2 a partir da redução do desmatamento, manejo integrado das pastagens e reflorestamento tanto de áreas de preservação permanente como de produção.

Estudos recentes do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas mostram que a agropecuária brasileira pode sofrer tremendo impacto com aumentos da temperatura global acima de 2oC especialmente pelas alterações nos padrões de chuva. As pesquisas também apontam que as florestas são essenciais para manter o regime hídrico e conter estas mudanças do clima ou pelo menos nos ajudar a adaptar a elas.

A economia do setor rural – agricultura, pecuária e produção florestal – é única que tem  conseguido avançar nos tempos difíceis que vivemos. O seu crescimento saudável e sustentável é do mais alto interesse para o Brasil e o mundo, dada a importância do país para produção global de alimentos, biocombustíveis e fibras.

Depois de seis longos meses de intensas negociações e dezenas de reuniões, o grupo estabeleceu uma visão comum orientada para promover uma economia rural forte,  competitiva e sustentável. As mais de 100 instituições signatárias se comprometem em lutar pelo desmatamento zero, a completa implementação do código florestal, a restauração das áreas degradadas e a implementação e valorização das práticas da agricultura de baixo carbono com vistas a possibilitar o Brasil zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa o mais cedo possível neste século.

Um conjunto de dezessete propostas concretas foram colocadas na mesa e servirão de base para o trabalho da Coalizão nos próximos meses e anos. 


Que tenha vida longa esta coalização tão improvável.

Publicado em O GLOBO em 24.06.2015