segunda-feira, 19 de junho de 2017

A ultima conexão




A inteligência artificial (IA) é usualmente descrita como a capacidade de máquinas resolverem problemas ou aprender a partir de algum grau de cognição. Os mecanismos de busca como o Google, sistema de reservas de passagem aéreas ou piloto automático de um avião são um exemplo de IA com que convivemos no dia a dia e se espalham por diversas áreas. Sistemas como o Watson da IBM já apresentam uma capacidade de resolução de problemas muitas vezes maior que a de um ser humano gênio. Dentro de uma década qualquer novo notebook ou smartphone conectado na rede poderá ter o mesmo grau de inteligência de toda a humanidade junta.

Máquinas que já eram capazes de realizar inúmeros tarefas de forma muito mais rápida, precisa e consistente que os serem humanos começaram a aprender. Este aprendizado de máquina (machine learning) já é bastante desenvolvido na busca de padrões a partir de análise massiva de dados (big data) de diversas áreas como comércio eletrônico (Amazon, Spotify, Netflix etc), diagnósticos médicos e interpretação de imagens. Os algoritmos destes sistemas computacionais são treinados para encontrar padrões a partir de chaves de classificação pré-programadas ou por milhões de operações de tentativa e erro.

Agora uma nova fronteira está sendo explorada com a criação de uma inteligência artificial genérica capaz de programar-se e se ajustar de acordo com a interação com o ambiente. Recentemente uma nova fronteira foi ultrapassada. A OpenAI, empresa de pesquisa sem fins lucrativos fundada por Elon Musk e Sam Altman, desenvolveu um algoritmo que permite um robô aprender uma tarefa como empilhar bloquinhos coloridos de madeira que estão desorganizados numa mesa a partir da observação de um ser humano realizando a tarefa. Depois de observar a operação uma única vez o robô é capaz de entender a sequência e a forma como devem ser empilhados os blocos, mesmo que o ponto de partida (forma como os blocos estejam dispostos inicialmente) seja modificada. 

Seremos dominados pelas máquinas que criamos? Talvez não se os humanos tivessem a mesma capacidade das máquinas.

Por isso, empresas como a Neuralink (também fundada por Elon Musk, sempre ele) e Facebook investem agora nas chamadas BMIs (Brain Machine Interface) para conectar o cérebro diretamente com a inteligência artificial.

Na primeira fase a interação pode ser digitar uma mensagem pelo pensamento, depois pode evoluir para fazer consultas diretas como se fosse uma busca no Google sem precisar digitar. Esta fase poderá ser uma realidade nos próximos 5 a 10 anos. Pessoas com sérias limitações motoras ou de sentido poderão ser as primeiras beneficiárias destas interfaces, mas a ideia dos desenvolvedores é tornar estas interfaces amplamente disponíveis e acessíveis para o maior número de pessoas possível, assim como a internet ou celular.

Em algumas décadas podemos chegar ao ponto de ter memória quase infinita (poderíamos guardar qualquer informação relevante tendo experiência por apenas um instante), capacidade de acessar o conhecimento coletivo de forma indistinguível do seu conhecimento próprio, compreender e falar em qualquer idioma e colaborar virtualmente em diversas tarefas sem a necessidade de uma interface externa como câmera, tela etc.

É um futuro ao mesmo tempo fascinante e assustador, mas de certa forma inevitável.  O desafio é usar toda este potencial para fazer do mundo um lugar melhor para todos. Precisamos conversar mais sobre isso.

Publicado em Epoca Negócios, Junho 2017