sábado, 18 de abril de 2015

Os caminhos da Índia

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Estive na Índia na última semana para explorar a oportunidade de implantar, por lá, o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) que já funciona no Brasil e no Peru provendo informações históricas e atualizadas sobre as emissões de todos os setores e gases.
O último inventário oficial de emissões da Índia é de 2005 (publicado em 2010) e existe uma atualização do mesmo com dados de 2007 publicada em 2012.  As emissões daquele país se concentram em energia com 57,8% dos 1.727 MtCO2e emitidos em 2007 (era 47% em 1994).
As estimativas mais recentes produzidas pelo EDGAR e pelo WRI indicam que as emissões na Índia estavam entre 2.500 e 2.800 MtCO2e em 2010. Com a segunda maior população do planeta (1,2 bilhões de pessoas), as emissões per capita ainda estão entre as mais baixas do mundo (2 tCO2e/pessoa/ano contra a média global de 7 e no Brasil de 7,5).
A Índia tem o segundo maior rebanho bovino do mundo (o Brasil ultrapassou a Índia em 2013, segundo dados a FAO), com a diferença de que lá não se come carne, e matar gado é crime. A média de idade dos animais é a mais alta, assim como as emissões de metano. No caso da mudança de uso do solo, a Índia deixou de perder cobertura florestal no final dos anos 90 (depois de chegar a 20% de seu total).
Os dados do levantamento nacional de florestas de 2013 mostram que, hoje, a Índia tem 21,5% de cobertura florestal tendo ganho mais de 5 mil km2 entre 2011 e 2013. Apesar deste aumento, o processo de degradação florestal continua, tendo reduzido a área de florestas densas e aumentado a área de florestas esparsas. Ainda assim, os sinais são de que, na última década, as mudanças de uso da terra se tornaram fator de remoção de carbono em vez de emissões.
O setor industrial de cimento e aço cresceu muito nas últimas décadas e, em 2007, já representavam mais de 15% das emissões do país (no Brasil é 7%, segundo dados do SEEG/OC).
Mas energia é mesmo o grande desafio indiano. A Índia e o 4o. maior consumidor de energia do mundo depois de China, EUA e Rússia, mas seu consumo per capita é 1/3 da média global. A IEA (Agencia Internacional de Energia) estima que mais de 3oo milhões de pessoas na Índia ainda não têm acesso à energia elétrica.
Além de conectar o equivalente a 1,5 vezes da população brasileira à energia elétrica, o país tem que superar sua forte dependência dos combustíveis fósseis. Mais de 70% dos 3,7 milhões de barris de petróleo e derivados consumidos diariamente foram importados em 2013. No caso do carvão, que ainda supre mais de 40% da demanda energética do país, cerca de 20% é importado e esta proporção está crescendo.
Desde o inicio desta década o governo indiano tem sinalizado a meta de se tornar independente do ponto de vista energético, até 2030, e o aumento da produção de combustíveis fósseis dentro do país (e fora, por aquisições) faz parte deste plano. Por outro lado, os altos índices de poluição nos grandes centros urbanos, como Deli e Calcutá, tem provocado enorme debate sobre a necessidade de se rever a direção dofuturo energético do país e os primeiros sinais começaram a surgir nos últimos anos.
O investimento em energias renováveis e mobilidade urbana sustentável é uma questão-chave para o desenvolvimento indiano, muito além do problema das emissões. É um problema de soberania e saúde.
Neste contexto, a Índia anunciou a meta mais ambiciosa de expansão de energia solar no mundo: alcançar 100 mil MW de capacidade instalada até 2022 (para efeito de comparação, toda capacidade de geração elétrica de todas as fontes no Brasil é atualmente de 135 GW). Se somados outros compromissos com geração por biomassa,eólica e hidrelétrica, as fontes renováveis podem acrescentar 250 GW ao sistema indiano, em 10 anos (a capacidade atual do sistema indiano e de 260 GW).
De outro lado, o cerco às emissões de poluentes no transporte urbano avança. Atualmente, é motivo de intenso debate, com direito a manchetes de primeira pagina, a decisão do Tribunal Nacional Ambiental (National Green Tribunal – NGT) de banir a circulação de veículos movidos à diesel da capital Deli e a pressão de governos de alguns estados para banir a circulação nos centros urbanos de qualquer veículo movido a combustíveis fósseis com mais de 15 anos.
A Índia ainda não apresentou ou sinalizou qual será seu compromisso de mitigação de emissões para o novo acordo climático a ser finalizado em Paris, no final de 2015. Como país com maior potencial para aumentar suas emissões nos próximos anos, a posição e a ambição da Índia podem mudar o curso natural da história e promover um salto de inclusão energética diretamente para fontes sustentáveis, com forte influência na viabilidade de uma nova trajetória de emissões em países em desenvolvimento.