terça-feira, 7 de outubro de 2014

O desafio que nos dá o real sentido de humanidade

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Conferência de Estocolmo sobre Homem e Meio Ambiente, realizada em 1972, é considerada por muitos o ponto de partida de grande parte dos acordos e movimentos multilaterais sobre sustentabilidade.
Mas o conceito de desenvolvimento sustentável – como aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras satisfazerem as suas necessidades – foi cunhado em meados dos anos 80 no relatórioNosso Futuro Comum produzido por uma comissão internacional liderada pela então primeira Ministra da Noruega, Gro Brundtland, daí o relatório ser também conhecido porRelatório Brundtland.
Este relatório se tornou uma espécie de livro-texto ou referência histórica sobre os conceitos, princípios e diretrizes do desenvolvimento sustentável. Entre suas recomendações estavam:
- limitação do crescimento populacional;
- garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) em longo prazo;
- preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis;
- aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas;
- controle da urbanização desordenada e
- integração entre campo e cidades menores e
- o atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Foi com este pano de fundo na cabeça que, na tarde do dia 30 de Setembro, mediei debate com Gro Brundtland, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do Grupo Abril, Fabio Barbosa.
Gro veio ao Brasil para participar de conferência no programa Fronteiras do Pensamento, mas, antes e a convite de FHC, foi ao espaço da organização Comunitaspara conversar com lideranças brasileiras sobre a agenda do desenvolvimento sustentável em 2015, quando dois importantes eventos serão realizados no contexto internacional: a definição dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e o novo acordo climático global.
Gro contou um pouco de sua trajetória, mas focou sua fala na questão de mudanças climáticas, que julga ser o maior desafio enfrentado pela humanidade dada a dimensão de seus impactos. Foi enfática ao dizer que a principal ação a ser tomada para reduzir emissões é taxar as emissões. De fato, Visualizar blogquando primeira ministra da Noruega, implementou a taxa de carbono mais de duas décadas atrás. O país é o que mais baixou emissões na Europa, cumprindo com folga as metas do Protocolo de Kyoto.
Fabio Barbosa refletiu sobre os recentes estudos Nova Economia do Clima e o DDPP. Apesar dos estudos apontarem a real possibilidade de conciliar desenvolvimento com a descarbonização da economia os avanços são muito lentos, pois as condições regulatórias e politicas de incentivos são contraditórias, dando o exemplo do subsídio aos combustíveis fósseis na casa das centenas de bilhões de dólares.
O ex-presidente Fernando Henrique contou como se envolveu nos primeiros debates sobre desenvolvimento e meio ambiente em 1974, em um grupo liderado por Ignacy Sachs e a dificuldade de conciliar na diplomacia os interesses nacionais às necessidades planetárias, e fechou o debate afirmando que as mudanças climáticas são o desafio global que nos dão verdadeiro sentido de humanidade: afeta a todos e só pode ser resolvida por todos. Em uma frase deu o exato sentido de ameaça e oportunidade dasmudanças do clima.
Para mim, que nasci em 1972 e, portanto, sou da geração pós-Estocolmo, aquela que não tem desculpa da ignorância para não lutar por um desenvolvimento sustentável, participar do debate com Gro Brundtland foi como dialogar com o livro texto de minha formação. Uma tarde inesquecível.

Publicado no Blog do Clima de O Planeta Sustentável em 07.09.2014