quarta-feira, 30 de julho de 2014

Além das eleições: Agenda do Clima no 2º semestre

Nem só de eleições viveremos no segundo semestre. A agenda do clima tem uma série de momentos de fundamental importância para a construção de um novo acordo climático global em 2015, que nos coloque na rota de limitar o aquecimento globalem 2ºC.
SETEMBRO
No inicio do mês, como parte da preparação para a Cúpula do Clima (Climate Summit), o SDSN (Sustainable DevelopmentSolutions Network) lança o primeiro relatório completo do projeto Caminhos para a Descarbonização Profunda (DeepDecarbonization Pathways Project).
Em 23 de setembro, em Nova York, na mesma semana da Assembleia Geral das Nações Unidas, o Secretario Geral das Nações Unidas, Ban-Ki-Moon, recebe chefes de estado de todo o mundo da Cúpula do Clima com a expectativa de que os líderes globais assumam comprometimento político com o novo acordo climático e, principalmente, sinalizem o nível de ambição de seus compromissos com a redução de emissões de gases de efeito estufa e aporte de recursos para mitigação eadaptação às mudanças climáticas.
Pelo menos uma dezenas de potenciais acordos multisetoriais (sociedade civil, governos e setor empresarial) estão sendo costurados para serem assinados durante (ou ao redor) da cúpula como, por exemplo, o Compromisso pelo Desmatamento Zero em 2020 na Amazônia.
OUTUBRO
Semanas depois, entre 20-24 de outubro, acontece a 5ª reunião do Grupo de Trabalho sobre a Implementação da Plataforma de Durban (AWG ADP). É neste grupo que acontecem as negociações sobre o novo acordo global de clima pós 2020, a ser aprovado em 2015, e a ampliação dos compromissos e ações até 2020. Nesta reunião, um dos pontos-chave é a definição do conteúdo mínimo e formato daapresentação das propostas de compromissos dos países para o período pós 2020, que deverá ser feita durante o primeiro semestre de 2015. É importante ter este formato único para que as propostas possam ser analisadas em conjunto e se entenda qual sua contribuição agregada para garantir um futuro de baixo carbono e umplaneta mais resiliente.
Na semana seguinte, entre 27 e 31 de outubro acontece a reunião do IPCC que lançará a última parte do 5º Relatório sobre o estado do clima (AR5), com a publicação do Resumo Analítico para Tomadores de Decisão, uma espécie de documento-síntese do trabalho dos grupos da ciência do clima, mitigação e adaptação.
NOVEMBRO
Neste mês, o Observatório do Clima lança a atualização das estimativas de emissões de gases de efeito estufa no Brasil até o ano de 2013. Até o final de novembro, o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Rede Clima deve publicar os dados do 3º Inventário de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa com dados até 2010. Estas informações são fundamentais para melhor informar o processo de definição da contribuição brasileira para redução de emissões no período pós-2020.
DEZEMBRO
Finalmente, entre 1 e 12 dezembro acontece a 20ª Conferencia das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20), em Lima, no Peru onde se pretende acordar os elementos que comporão o novo acordo global de clima a ser negociado em 2015.
Agenda cheia, e quase um aquecimento para um ano ainda mais cheio de emoções em 2015!

Ambiente de Guerra

Em 2003, quatro meses após o início da Guerra do Iraque, uma equipe da Unidade de Desastres e Conflitos do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas desembarcou no país para avaliar os impactos do conflito sobre o ambiente e as pessoas e propor ações para remediar esses impactos.

O relatório produzido é impressionante. Os bombardeios das primeiras semanas de guerra afetaram a infraestrutura de geração elétrica. Sem eletricidade, os sistemas de fornecimento de água e coleta e tratamento de esgoto entraram em colapso. O esgoto corria a céu aberto e atingia os principais cursos d’água, chegando aos rios Tigre e Eufrates. As doenças relacionadas à água se espalhavam, agravando a precária situação dos hospitais e postos de atendimento médico, que já eram insuficientes para lidar com feridos nos ataques.

Com objetivo de eliminar possíveis locais de produção de armas químicas (nunca encontradas), indústrias químicas, de fertilizantes e farmacêuticas foram atacadas. Milhares de toneladas de produtos químicos tóxicos e perigosos foram espalhados por extensas áreas, com contaminação do ar, da água e do solo. Tanques e poços de petróleo foram queimados — muitos por sabotagem — e o fogo que se estendeu por semanas produziu uma fumaça tóxica que atingiu a população, a produção animal e agrícola.

O bombardeio e o trânsito de milhares de equipamentos pesados de guerra sobre áreas do entorno das cidades destruíram e degradaram ecossistemas inteiros.

Diagnósticos semelhantes foram obtidos no Afeganistão, em Serra Leoa, Sudão, Kosovo, Congo e Líbano, entre tantos outros países.

A guerra não explica todos os problemas ambientais encontrados, mas o que se constata é que a tragédia humanitária das batalhas vai muito além das mortes durante os conflitos. Ela se perpetua através dos impactos sobre a infraestrutura, residências, fábricas, áreas agrícolas e ambientais naturais, com reflexos diretos na qualidade ambiental, saúde e segurança alimentar.

Desde 2003, a ONU trabalha em conjunto com o governo e a sociedade iraquianos para recuperar as mínimas condições ambientais no país. Dez anos depois do início da guerra, o país ainda está longe de conseguir a paz e muito mais longe de recuperar os danos à qualidade ambiental que a guerra provocou ou acentuou. Triste sina para o país que abriga a Mesopotâmia, o berço da civilização, onde nasceu a agricultura e foi o embrião das cidades.

Enquanto escrevo este artigo recebo a noticia de que a única central elétrica da Faixa de Gaza, que atende a 1,8 milhão de habitantes, foi destruída. Chocante.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Tempos extremos

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Os eventos climáticos extremos estão aumentando em frequência, abrangência e intensidade em todos os continentes. Secasenchentes, tempestadesfuracões,ciclones tropicaiscalor extremo e inundações crescem em todo o mundo, década a década desde 1970 quando começaram a ser sistematicamente monitorados pela Organização Mundial de Meteorologia (WMO) que lançou recentemente o Atlas Global de Mortalidade e Perdas Econômicas por Extremos Climáticos.
O Atlas apresenta a evolução das ocorrências de perdas humanas e econômicas por advento dos desastres naturais climáticos durante 42 anos, entre 1970 e 2012. Foram 8.835 eventos extremos reportados (não entram terremotos e tremores por não serem eventos climáticos) que resultaram em 1,94 milhões de pessoas mortas e US$ 2,4 trilhões de dólares em prejuízo econômico. As tempestades e inundações representaram 79% dos eventos, 54% das mortes e 84% das perdas econômicas. Mas, em eventos únicos, as secas severas na África nos anos 1975, 1983 e 1984 foram os mais devastadores em termos de vidas humanas.
Os 10 maiores desastres em termos de perdas de vidas aconteceram em países em desenvolvimento e as maiores perdas econômicas nos Estados Unidos e na China. Clique no mapa abaixo para ver os detalhes:

mapa-desastres-pequeno
Clique aqui para ler o relatório original.
Entre 1970 e 2012, o numero de ocorrências de desastres naturais climáticos aumentou mais de quatro vezes. Se na década de 70 se reportou um desastre a cada 5 dias, em média, em 2012 foi registrado um desastre/dia. Os impactos econômicos também cresceram fortemente. Em valores atualizados, as perdas subiram de US$ 16 para 86 bilhões, entre as décadas de 70 e os anos 2000. Veja tabela abaixo:
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Na África predominam as secas, na Ásia as tempestades e inundações, no Sudeste Asiático e Oceania os ciclones tropicais, no Europa os extremos de temperatura, incêndios e inundações, na América do Norte, Central e Caribe as tempestades e furações e na América do Sul as inundações, deslizamentos de terra e extremos de temperatura. Este padrão aponta muita similaridade com os mapas de cenários de impactos previstos pelo aquecimento global, reportados nos 4º. e 5º relatórios do IPCC.
As mudanças climáticas estão se materializando muito mais rápido do que se imagina e já batem a nossa porta com um aumento de 1C na temperatura média global. É tempo de trabalhar arduamente para evitar um acréscimo maior de 2ºC e, assim, reduzir o risco de rupturas ainda mais dramáticas.

Publicado em Planeta Sustentável - 24/07/2014

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Descarbonização Profunda

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Em 2008, um grupo de fundações, instituições de pesquisa e empresas mobilizou um grupo de dezenas de especialistas em ciência do clima, tecnologia e políticas públicas de todo o mundo para produzir um suporte analítico independente e inspirador para apoiar o desenho do novo acordo climático esperado para COP15, em Copenhague, no final de 2009.
Catalyst Project, como foi batizado, juntou as informações produzidas pelo 4º relatório do IPCC com uma extensa revisão das ações possíveis a serem feitas para reduzir emissões globalmente e estimou os custos envolvidos. O projeto foi fundamental para sustentar a necessidade e possibilidade de assumir o limite de aumento da temperatura global em 2ºC como objetivo geral da convenção. Uma série de instituições fundamentais no debate climático foram forjadas no projeto (2008-2011) como a Fundação ClimateWorks, a European Climate Foundation e o CPI – Climate Policy Initiative.
Em 2010, a UNEP (Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas) publicou a primeiro estudo da série “Emissions Gap Report” que avalia anualmente o quanto as contribuições e compromissos dos países pode gerar de reduções globais de emissões e o qual a lacuna (do inglês gap) para entrarmos em uma trajetória compatível com o cenário de 2ºC.
Ambas iniciativas firmaram a convicção de que não existe possibilidade de se manter no cenário de 2ºC sem um esforço global que envolva todas as partes num processo deprofunda descarbonização da economia global. Mas como conduzir um desenvolvimento inclusivo associado a uma drástica redução das emissões?
Buscar respostas a esta pergunta é o principal propósito do DDPP – Deep Decarbonization Pathways Project (Projeto Caminhos para Descabonização Profunda, na tradução livre do inglês) conduzido pelo SDSN (Sustainable Development Solutions Network) sob coordenação do professor Jeffrey Sachs, da Universidade de Columbia (USA).
O projeto reúne inicialmente grupos de pesquisa independentes em 15 países (África do Sul, Alemanha, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Japão, México, Reino Unido e Rússia) que respondem por cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa para produzir cenários de desenvolvimento associados à profunda descarbonização da economia.
O primeiro relatório preliminar do DDPP foi lançado no inicio de julho já com os estudos de 12 dos 15 países (os do Brasil, México e Alemanha será publicados nas próximas semanas) e se prepara para o lançamento da versão completa do DDPP2014. Ela será lançada em setembro, pouco antes da Cúpula do Clima convocada pelo secretário-geral da ONU, quando se pretende elevar o nível de ambição para o novo acordo climático global a ser finalizado em 2015 na COP21, em Paris.
As primeiras 40 páginas do longo relatório (218 pág.) traz uma análise agregada das lições obtidas a partir do desenvolvimento dos DDPs (Cenários de Profunda Descarbonização) preliminares para os diferentes países do estudo, que se concentraram nas emissões do setor de energia que representam quase dois terços das emissões globais de GEE. Para produzir os cenários os grupos assumiram como premissas:
1) o cenário de descarbonização deve ser compatível com o volume máximo de emissões globais agregadas que limitar o aumento de temperatura a 2ºC;
2) todos os países irão adotar ações coordenadas para atingir a profunda descarbonização, incluindo as medidas nacionais adequadas em regulação e incentivos,
3) o fluxo de recursos fluirá do portfólio de alta para baixa intensidade de emissões de GEE e
4) haverá financiamento para os países com iniciativas genuínas de mitigação e desenvolvimento com baixas emissões.
Abaixo, gráfico da trajetória da redução das emissões de CO2 relacionadas ao setor de energia em 15 DDPs. Clique na imagem para ver os detalhes:
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A seguir as principais mensagens do relatório preliminar:
• Os cenários de descarbonizarão produzidos para o período até 2050 levam a uma redução de 45% das emissões relacionadas a energia até 2050 no agregado. Na troca de experiências e informações entre os grupos, foram identificadas novas oportunidades de descarbonização que serão incorporadas nas próximas versões do DDPP;
• A descarbonização profunda no setor de energia envolve, em todos os países estudados, pelo menos três pilares estratégicos:
(i) forte melhoria da eficiência e conservação da energia,
(ii) forte redução das emissões na geração de energia elétrica e
(iii) agressiva substituições de combustíveis fósseis por combustíveis de baixa emissão ou energia elétrica renovável;
• A Captura e Armazenamento de Carbono (CCS), a energia nuclear e a substituição de carvão por gás natural embora tenham sido consideradas em parte dos países, aparecem como componente forte no agregado para a descarbonização até 2050;
• De todos os setores estudos os dois que apresentam maiores desafios para compor DDPs são transporte de carga e processos industriais que ainda precisam ser aprofundados;
• A viabilidade técnica dos DDPs depende em grande medida na capacidade de entrega em larga escala, nos próximos anos, de várias tecnologias de baixo carbono ainda em desenvolvimento. Algumas tecnologias chaves em áreas como armazenamento de energia de alta capacidade e transmissão de alta performance ainda precisam de grande avanços.
Mas a lição mais importante é que sem perspectivas clara de longo prazo (eg. 2050) para o limite de emissões, a tendência é que as definições de metas e compromissos de redução de emissões, para períodos mais curtos como 2025 ou 2030, sejam claramente insuficientes para limitar as emissões a mil GtCO2e até o final do século, condição para termos 2/3 de chance de mantermos o aquecimento global em até 2ºC.
A sugestão do DDPP é clara: devemos definir os compromissos de curto e médio prazo para redução de emissões tendo como ponto de partida um limite global de emissões acumuladas no longo prazo (2050) e, durante 2015, o projeto colocará na mesa alternativas para subsidiar o processo de decisão. É uma contribuição fundamental para o processo da negociação do novo acordo global.
No Brasil, a equipe da pesquisa do DDPP é liderada pelo Prof. Emílio La Rovere do COPPE/UFRJ.

Foto: Christopher Craig/Creative Commons


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Porque a mais inovadora fabricante de veículos abriu mão de suas patentes

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Tesla é a mais jovem fabricante americana de carros em série. Fundada em 1993, a empresa produz exclusivamente carros elétricos. Mas nada de híbridos, são puro sangue mesmo, 100% elétricos!
A produção em massa começou em 2012 e, em 2013, atingiu a marca de 25 mil carros projetando chegar, em 2014, a 35 mil carros. Embora sua produção represente pouco mais de 1% do que fabricam anualmente gigantes como a Ford e a GM, o valor de mercado da Tesla (US$ 28 bilhões) já é quase metade do valor da GM e 40% da Ford.
O que faz da empresa um caso raro de sucesso é uma série de inovações que têm poder para revolucionar todo o setor automobilístico. As vendas são diretas (não existe concessionária) pela internet. O veículo é conectado a internet permanentemente e a manutenção é feita, muitas vezes, através de atualizações no sistema operacional ou aplicativos/softwares do carro.  Sua performance é superior a dos automóveis movidos a motor a combustão em quase todos aspectos: velocidade, arranque, segurança, conforto, espaço útil e economia. Foi considerado pela Consumers Report como o melhor carro já produzido entre todas as categorias.
A impressão que se tem depois de se conhecer um veículo da Tesla é que todos os demais automóveis são ultrapassados. E os conceitos ali aplicados podem ser expandidos para o transporte coletivo de passageiros e mesmo de carga.
Uma dos compromissos da Tesla é oferecer gratuitamente carregamento super rápido (20-25 min) em estações fixas distribuídas de forma a permitir que qualquer veiculo possa cruzar países e continentes sem ficar na mão.
A Tesla possui centenas de patentes e outros tantos segredos industriais em áreas que vão de baterias (só aí são mais de 100 patentes) a motores elétricos, de sistemas de fabricação e equipamento de carregamento.  Este parecia ser o fator primordial de competitividade da Tesla, mas a empresa tomou a surpreendente decisão em junho de liberar o uso de todas a suas patentes como forma de acelerar a oferta de veículos elétricos.
Em carta aberta aos acionistas da empresa e ao público, Elon Musk, empreendedor e CEO da empresa, explica que a missão da empresa é acelerar a adoção do transporte sustentável e que, ao liberar as patentes, contribui para esta missão. Ele diz que seus competidores não são os demais fabricantes de carros elétricos, mas os 200 milhões de carros produzidos anualmente com motores a combustão.
A demanda por carros da Tesla é muito maior que a capacidade de fabricá-los, e a capacidade financeira e a estrutura da empresa para montar a infraestrutura de abastecimento rápido ou produzir baterias é limitada. Para que os veículos elétricos se tornem protagonistas do transporte de passageiros é fundamental a rápida adoção de inovações como aquelas produzidas pela Tesla.
Ao abrir as patentes, Elon Musk abre uma avenida de oportunidades para revoluções em outros setores tão fundamentais para uma economia de baixo carbono como tecnologias de produção, geração, armazenamento e distribuição de energias renováveis modernas ou a reciclagem e o processamento de resíduos. Que seja seguido o exemplo!
Abaixo a íntegra da mensagem em que Elon Musk anuncia e explica a decisão, em 12/06/2014:
Até ontem, havia um painel com as patentes da Tesla no lobby da sede de Palo Alto. Isso já não é o caso. Eles foram removidos, no espírito do movimento open source, para o avanço da tecnologia de veículos elétricos.
Tesla Motors foi criada para acelerar o advento do transporte sustentável.  Se abrirmos o caminho para a criação de veículos elétricos convincentes, mas atrás de nós deixarmos um caminho minado com barreiras de propriedade intelectual, estamos agindo de forma contrária a esse objetivo. Tesla não processará qualquer pessoa que, de boa fé, quiser usar nossa tecnologia e nossas patentes.
Quando lancei minha primeira empresa, Zip2, pensava que patentes eram uma coisa boa e trabalhei duro para obtê-las. E talvez elas tenham sido boas por um bom tempo, mas, hoje, muitas vezes elas servem apenas para abafar o progresso, consolidar as posições das corporações gigantes e enriquecer advogados, em vez de os inventores reais. Depois da Zip2, quando me dei conta de que receber uma patente realmente só queria dizer que você comprou um bilhete de loteria para uma futura ação judicial, passei a evitar as patentes sempre que possível.
Na Tesla, no entanto, nos sentimos obrigados a criar patentes com a preocupação de que as grandes empresas de automóveis iriam copiar nossa tecnologia e, em seguida, usar a sua enorme capacidade instalada de produção, vendas e marketing para oprimir a Tesla. Infelizmente, estávamos equivocados. A triste realidade é o oposto: os programas de carro elétrico (ou programas para qualquer veículo que não queima combustíveis fósseis) nos principais fabricantes são pequenos ou inexistentes, constituindo uma média de menos de 1% das suas vendas totais de veículos.
Na melhor das hipóteses, as grandes montadoras estão produzindo carros elétricos com alcance e volume limitado. Muitas ainda não produzem um único carro com zero de emissões.
Dado que a produção anual de veículos novos está se aproximando de 100 milhões por ano e a frota mundial é de cerca de 2 bilhões de carros, é impossível para a Tesla construir carros elétricos de forma rápida o suficiente para lidar com a crise de carbono. Da mesma forma, isso significa que o mercado é enorme. Nossa verdadeira concorrência não é o pequeno mercado de outros carros elétricos sendo produzidos, mas sim a enorme enxurrada de carros a gasolina saindo das fábricas de todo o mundo a cada dia.
Acreditamos que a Tesla, as outras empresas que fazem carros elétricos e o mundo todo se beneficiariam da rápida evolução de uma plataforma comum de tecnologia.
A liderança tecnológica não é definida por patentes (a história tem mostrado repetidamente oferecer pouca proteção de fato contra um concorrente determinado), mas, sim, pela capacidade de uma empresa para atrair e motivar os engenheiros mais talentosos do mundo. Acreditamos que a aplicação da filosofia open source para nossas patentes vai reforçar em vez de diminuir a posição de Tesla a este respeito.