quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Por que 2ºC?

Uma pergunta frequente em debates sobre mudanças climáticas se refere ao objetivo acordado pelos países participantes da cop15, em 2009: Evitar que o aumento da temperatura média do planeta chegue a 2ºC. Mas por que 2ºC e não 1,5ºC ou 3ºC?

A Convenção do Clima foi aprovada em 1992 com o objetivo de “estabilizar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera em um nível que previna uma interferência antropogênica perigosa sobre o sistema climático. Este nível deve ser atingido em um período suficiente que permita que os ecossistemas se adaptem naturalmente às mudanças climáticas, para assegurar que a produção de alimentos não seja ameaçada e permitir que o desenvolvimento econômico aconteça de maneira sustentável”.

Com apenas um relatório do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU publicado até então, nesse ano não havia elementos suficientes para definir metas mais concretas sobre o nível de concentração dos gases. A publicação do 4o. Relatório do IPCC, em 2007, apresentou uma série de dados e informações com maior grau de certeza sobre os cenários de aumento da concentração dos gases de efeito estufa, os impactos no aumento da temperatura e as possíveis consequências para o sistema climático global e para humanidade.

Nesse Relatório , o IPCC apontava que, em algum ponto entre 1,9ºC e 4,6ºC de aumento médio de temperatura, existe alto risco de ocorrer mudanças abruptas e irreversíveis no sistema climático envolvendo correntes oceânicas, derretimento de geleiras, aumento do nível dos oceanos, perda massiva de biodiversidade e de capacidade produtiva agrícola entre outros impactos. No caso da biodiversidade, indicava que um aumento de 1,5ºC a 2,5ºC pode levar a extinção de 20 a 30% das espécies.

Por outro lado, os diversos cenários desenhados por estudos científicos indicam que, para a temperatura não aumentar acima de 1,5ºC, a concentração de gases não pode passar de cerca 320 ppm. Acima de 400 ppm, a chance de limitar a temperatura em 1,5 ºC cai para menos de 10%. O relatório apontava ainda que a concentração de gases da atmosfera, em 2004, chegaria a 385 ppm, enquanto que, em milhares de anos até o final do século 19, não havia passado de 300 ppm.
Para poder planejar e construir um novo acordo sobre mudanças climáticas, mais efetivo e robusto, era preciso definir de forma mais concreta a referência para alcançar a meta da convenção. Limitar em 2ºC é uma decisão politica tomada em 2009, no âmbito do Acordo de Copenhague que procurava combinar a capacidade e os limites de adaptação às mudanças do clima e, ao mesmo tempo, as possibilidade e os limites para mitigar as emissões de forma a garantir o desenvolvimento dos países.

Dois graus representam quase o limite quase acima do qual as mudanças climáticas tornam-se abruptas e irreversíveis. Temos 50% de chance de limitar o aquecimento a 2ºC. Esse limite também serve de referência para embasar os programas de adaptação às mudanças do clima que, ainda assim, vão ocorrer.
O próprio Acordo de Copenhague reconhece que melhor seria tentar limitar em 1,5ºC quando propõe que, na avaliação da implementação do Acordo, prevista para 2015, a proposta seja reavaliada e reconsiderada.
O fato é que, em 2013, a marca de 400 ppm foi alcançada e não existem perspectivas de que o pico das emissões globais vá ocorrer antes de 2020. Portanto, o cenário de 2ºC está cada vez mais distante e as chances de que ele ocorra caem a cada dia. Nas condições atuais, as chances de a temperatura média subir 4ºC entre 2050 e 2070 é bem maior do que 2ºC. E este seria um cenário trágico que devemos evitar a qualquer custo. Como o aumento de temperatura médio não é homogêneo, determinadas regiões poderiam ter aumento médio de 10ºC neste cenário.

A temperatura média da Terra é de cerca de 14ºC. Um aumento de 2oC equivale proporcionalmente a uma febre de 40ºC em uma pessoa. Imagine o que significam 4ºC.
O 5º. Relatório do IPCC, que começará a ser divulgado em setembro próximo, deverá trazer ainda mais luz e informação sobre os limites que precisamos observar. A conferir.